Reprodução integral de entrevista publicada em A NOTÍCIA (NSC Comunicação) em 12 de setembro de 2020.

Por Cláudio Loetz (Jornalista)

 

CEO da Vektor Energia, empresa do grupo Ascensus, Sandro Bittencourt de Souza fala, em entrevista exclusiva, sobre as tendência do mercado de energia e explica as vantagens do mercado livre em relação ao ambiente cativo. O profissional atuou por 16 anos na Celesc e também teve passagem pela RBE, braço do grupo H.Carlos Schneider, dono da Ciser, em Joiville. A seguir, confira a conversa.

O consumo de energia caiu significativamente neste ano por causa da pandemia do novo coronavírus, que paralisou atividades por muito tempo. O que isso significa?

O efeito natural é o da sobra de energia. E isso fez o preço cair 50% neste ano. E há sinalização de que vai cair mais 20% no próximo ano. A percepção é de que, no longo prazo, a energia fique mais barata; e também haverá mais empresas ofertando no chamado mercado livre.

O senhor espera aumento da demanda por energia no mercado livre. Por quê?

A Vektor Energia, que faz parte do grupo Ascensus, de Joinville, prevê crescimento superior a 40% na migração de empresas para o mercado livre de energia já entre 2020 e 2021. O aumento se deve aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que derrubou o PIB e, por consequência, o consumo de energia elétrica no país.

A pandemia provocou queda no consumo de energia elétrica, naturalmente. Como avalia isso?

Na comparação de abril de 2019 para abril de 2020 houve queda de 12,10%. Em maio, o recuo já foi bem menor: 3,80% no país e 1,20% em SC. A melhora veio em julho: alta de 0,70% e de 1,50%, respectivamente.  Já em agosto, o consumo manteve-se estável, sem variação no Estado, comparativamente ao mesmo mês do ano passado.

O senhor criou a Vektor Energia há pouco tempo. Como avalia o momento e onde estão os clientes?

Para o mercado de energia livre (negociada por empresas privadas, e não pela Celesc) há clientes potenciais e muito interessantes em vários setores: supermercados, varejo, shopping, prestadores de serviços. Antes, a venda de energia livre era predominantemente para grandes empresas, principalmente indústrias. Agora já há clientes entre empresas médias e pequenas – e de vários segmentos da economia.

O que vai mudar na relação entre fornecedor e cliente daqui em diante?

Por exemplo: até 2028 todos vão poder escolher a forma de energia que querem comprar. Haverá maior opção de escolher. O Brasil vai deixar de ser o 55º país do mundo no quesito liberdade de mercado, para de aproximar da prática mundial.

O senhor fechou parceria com a Ascensus, um poderoso grupo de logística e comércio internacional.

Sim, a Ascensus se tornou sócia da Vektor. Faz sentido: toda a cadeia de exportação e logística está mais aquecida. Claro que uma as razões é o dólar alto; outra é o bom momento do setor de alimentação.

Qual a vantagem para o cliente que compra energia livre, em vez de adquirir junto à Celesc?

O preço. Antes da Covid-19, a diferença era de 10%. Agora já é de 25% a 30% mais barato comprar de fornecedor de energia livre.

Quantos clientes tem a Vektor?

Abrimos a companhia há pouco tempo. Até o fim do ao queremos ter 100 clientes. E, em dezembro de 2021, atingir 200 clientes. Nós não apenas vendemos energia; o principal é identificarmos a melhor solução para o cliente.

A Vektor atua em Santa Catarina. Quais os planos de expansão?

A gente escolheu Santa Catarina como mercado a conquistar. A Vektor tem um foco claro: ser uma boutique neste segmento, atender a região Sul do país, em especial Santa Catarina. A meta é chegar a 350 clientes.

A legislação e o marco regulatório estão mudando.

Cada vez mais haverá disputa pelo mercado. Haverá a possibilidade de se vender energia livre para clientes cada vez menores. No futuro vai acontecer a mesma coisa que ocorreu com a telefonia: com pedido direto de portabilidade, qualquer cliente poderá migrar para outro fornecedor.

Com mais players no chamado mercado livre de energia, a qualidade não pode cair?

Não, porque a Celesc é obrigada a garantir a qualidade de energia.

Em agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a Celesc aumentar a tarifa em 8,14%. Depois, houve decisão liminar, na Justiça, suspendendo o reajuste.

A Celesc não tem culpa pelo aumento. Dos 8,14% de alta, concedidos pela Aneel, metade corresponde à variação cambial de compra de energia de Itaipu, e de encargos setoriais.

 

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